As Mulheres… à mesa!
- Comunicação Caese
- 25 de set.
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Guila Clara Kessous, Artista da UNESCO para a Paz, Vice-Presidente da Union Nations Fédération (UNF) e Diretora do Fórum Internacional «Femina Vox»21 de setembro de 2025
Por ocasião do Dia Internacional da Paz, Guila Clara Kessous defende que as mulheres estejam plenamente associadas às negociações diplomáticas. Sem a sua voz, nenhum acordo pode ser justo nem duradouro.
Neste Dia Mundial da Paz, não posso deixar de levantar uma questão simples, mas essencial: como celebrar a paz quando metade da humanidade continua excluída das mesas onde ela é negociada?
Há mais de vinte anos, as Nações Unidas recordam, por meio da Resolução 1325 e das que a seguiram, a importância da participação das mulheres nos processos de paz. No entanto, os números continuam alarmantes: entre 1992 e 2019, representamos em média apenas 13% dos negociadores, 6% dos mediadores e apenas 6% dos signatários de acordos de paz. Ao mesmo tempo, são as mulheres e as crianças que constituem cerca de 80% das populações deslocadas e sofrem mais duramente os conflitos.
Essa invisibilização não é apenas uma injustiça. Ela constitui uma fraqueza estratégica para qualquer tentativa de reconciliação duradoura. Pois os estudos são claros: quando as mulheres participam efetivamente das negociações, os acordos resultantes têm 35% mais chances de durar pelo menos quinze anos. A paz, portanto, não é apenas uma questão de presença feminina, mas de eficácia coletiva.
É nesse espírito que propus, como Artista da UNESCO para a Paz, vice-presidente da Union Nations Fédération e diretora do Fórum Internacional «Femina Vox», uma resolução que visa instaurar uma cota mínima de 30% de mulheres em todas as delegações oficiais de negociação de paz. Esse limiar não é um fim em si mesmo, mas um primeiro passo rumo à paridade, em conformidade com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Já apresentei essa resolução durante os PeaceTalks na ONU, em 10 de setembro passado, em Genebra, diante de mais de 400 participantes. O retorno entusiástico que recebi prova que existe uma expectativa real, tanto na sociedade civil como nos círculos diplomáticos, para que as mulheres deixem de ser espectadoras da paz e se tornem finalmente protagonistas de pleno direito. Essa dinâmica se alinha ao espírito dos Acordos de Sarah e Hajar — equivalente feminino dos Acordos de Abraão — que criei em abril de 2023 e que demonstram que iniciativas oriundas da sociedade civil, conduzidas por mulheres, podem abrir caminho para propostas de reconciliação inovadoras e inclusivas.
Mas não basta abrir a porta. É preciso também que aquelas que entram tenham meios de se fazer ouvir. Por isso insisto na necessidade de programas de formação dedicados: oficinas interativas de negociação, de tomada de palavra, de autoconfiança, de mentoria, de liderança. As futuras negociadoras devem estar armadas, não com armas de guerra, mas com armas de convicção e legitimidade.
Não falo aqui de um suplemento de alma, mas de um imperativo político. Excluir as mulheres é excluir metade das soluções. Ao contrário, a sua inclusão torna os processos mais legítimos, mais representativos e mais suscetíveis de responder às necessidades diferenciadas das populações afetadas.

Todos os anos, no dia 21 de setembro, acendemos simbolicamente a chama da paz. Mas uma chama vacila se não for protegida por várias mãos. Neste dia, escolho lembrar que a paz não é um estado fixo, mas uma construção frágil e coletiva. Ela se constrói com várias vozes, vários olhares, várias experiências.
Portanto, para que este Dia Internacional da Paz tenha sentido, é hora de ousar dizer o que muitas diplomacias ainda relutam em admitir: a paz não pode ser negociada sem as mulheres.
É hora, finalmente, de sermos plenamente convidadas. É hora de se dizer claramente: as mulheres… à mesa!



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